Explicações!

Andei um bom tempo egoista. Escrevi só pra mim e só eu saboreei meus textos. E quando menos esparava e vindo de onde eu menos esperava, me cobraram explicações: "Tu abandonou o blog?"
Não, mas achei que ninguém mais lia.
Agora que sei que alguém lê, volto a publicar minhas confusões mentais.
Aproveitem (ou não).
Sal.

Um corpo.

Era tarde, eu cansado acabei me separando em muitas partes.
Olhei-te diretamente nos olhos e resmunguei:
-Escolha!
Como sempre, você escolheu todas as erradas.
Quis as mais superficiais, as mais bonitas, as semelhantes.
Juntei o que sobrou. Não era nada útil, mas ainda era eu. Sentei-me na cama. Sentindo falta do que você tinha levado.
- Ainda sou eu?
Passei a mão pelas pernas, senti as coxas, peguei em meu pau.
- Ainda sou eu?
Apertei as bolas, subi pela barriga, pescoço, pus as mãos no rosto.
Chorei como uma criança que aprende o que é um não.
Deitei-me. Sem camisa e de bermuda.
- Ainda sou eu?
Mas que partes você levou?
Em quantos pedaços sou capaz de me dividir?
Ao menos dois básicos: corpo e mente.
- Você teria levado a mente?
Não, a mente ainda está aqui escrevendo isso.
Bem, então, sou capaz de me dividir em mais.
- Corpo, mente e alma?
Então você teria levado minha alma.
Que lama me resta?
Sem alma, só lama?
Brincando com as letras, parece que surge a verdade.
Se você levou o melhor, o pior me prende nesse lamaçal.
- Isso sou eu?
Não. Não foi isso que você levou.
- Corpo, mente, alma, sonhos?
Hum...
- Corpo, mente, alma, sonhos, dores?
- Amores, família, amigos, dores?
- Cacos, surtos, gargalhadas?
- Cabeça, tronco e membros?
Qual parte ainda resta?
Levantei-me e tirei a bermuda. De cuecas fui até a cozinha, enchi um copo de água gelada. Voltei para o quarto.
Olhei para mim no espelho e resmunguei de novo:
- Escolha!
Fiquei horas parado com o copo na mão. Olhos, boca, nariz.
- Peito, cabelos, pentelhos.
- Boca, mãos, carteira.
- O que você levou? O que eu levei?
Sorvi a água quente. O copo fervia como eu fervo em dias de lua cheia.
- Calor, frio, cinismo?
- Dentes, porra, sangue?
Qual parte ainda resta?
Qual parte é aresta?
Alma, lama, cama.
Deitado, teto.
Em pé, reto.
Qual parte você levou?
O que restou?
E eu, o que sou?

Um comentário:

adriana disse...

Amore, independete da parte que se perca ou que alguém leve consigo você é sempre você porque em cada parte há uma unidade do teu todo. Você não é egoísta então se dividir não é assim tão trágico. Adorei a crônica. Bj