Explicações!

Andei um bom tempo egoista. Escrevi só pra mim e só eu saboreei meus textos. E quando menos esparava e vindo de onde eu menos esperava, me cobraram explicações: "Tu abandonou o blog?"
Não, mas achei que ninguém mais lia.
Agora que sei que alguém lê, volto a publicar minhas confusões mentais.
Aproveitem (ou não).
Sal.

a viagem sem destino

Partiu na madrugada, o cão guia ia na camiseta. A escuridão não era problema, quando se caminha certo de si, se caminha certo do solo onde pisa. Alguém abre a porta. Ela sorri. Diz que se sente só, mas é saudade. Ela brilha e rodopia, como pequenas fadas. Correndo na frente, ela grita. Atônitos, olhamos seu brilho aumentar. Certas vezes diz que pensa em desistir. Certos dias, confessa que algo deu errado. Ela jura que gosta, mas ainda não ama. Uma gargalhada corta o silêncio. Uma espada samurai corta meu mundo em dois. Ela me chama de luar do seu sertão. Mal sabe ela que se existe alguém que brilha não sou eu, é ela. Algumas estradas se cruzam, algumas se separam.Manuela.... volte Manuela... você foi feita pra correr, mas caminhe mais um pouco do meu lado. Minhas pernas são grandes, mas estão cansadas. Espere, não... não me espere... estaremos sempre juntos. Te encontro no final.

A insustentável existência do ser-estar

Quando abro os olhos, vejo um facho de luz entrando por entre as cortinas. O ziguezague da estampa se confunde em minha mente gerando outras formas. Os olhos pesados, marejados pela beleza que a cena mostra, resistem à gravidade. A luz inside no violão. Uma música, sua voz. Os olhos se fixam aos teus. O ser confunde-se com o estar. O bem-estar deseja tornar-se bem-ser. Uma brisa sopra. As cortinas se embalam. É como se quisessem dançar. Sua voz invade os cantos. O violão gera reflexos pelo ambiente. O mundo gira mais rápido. O mundo pára de girar. Ponha um cd. Tire as mãos do violão. Aproveite o tempo do mundo que não gira. Aproveite o tempo do mundo que gira mais rápido. Um sorriso. Meus olhos aprenderam a falar? O violão é posto de lado. A voz é proibida de calar. E o ser quer estar, o estar quer ser...E assim ficam pelo tempo, em uma insustentável existência.

A súplica de um velho

Sinto-me sufocado. As portas se abrem, penso que será minha vez de ir. Sinto falta do ar puro, sinto saudades da luz do sol. Quisera eu ter minha liberdade novamente. Abriram-se, um momento de indecisão, quem será o liberto de hoje? Sinto a claridade entrar, respiro com força. O ar carregado se renova, as portas continuam abertas. Lembro-me de momentos felizes, quando eu caminhava por aí e mostrava minha juventude aos olhos de cobiça. Faz tempo, faz tempo. Um baile. Dia de festa. Rodei pelo salão até não me agüentar e acabar a noite numa cadeira. Suado. Molhado. Acabei esquecido aqui. Fui me estragando com o tempo. Não respeitaram meus limites, me usaram, me jogaram contra sarjetas, contra pisos frios. A porta continua aberta. Hoje estão indecisos. E se eu gritasse? E se eu pedisse: - Tirem-me daqui!!! Preciso ver os amigos. Preciso sentir novamente o gosto da bebida, mesmo que sejam pingos. Quero sentir a pele macia de uma mulher se roçando em mim. Quero sentir seu perfume invadindo minhas entranhas. Preciso sentir seus lábios me tocarem em uma dança à moda antiga. A respiração ofegante, tão próxima. Ahhh!!! Não fui escolhido. As portas se fecharam. Voltei à escuridão desse espaço apertado. Sinto um desconforto tremendo. Nos apertamos uns contra os outros. Mal cabemos todos juntos. Quando as portas se abrirem novamente eu não esperarei pela minha vez. Prometo me jogar no chão, mesmo que use toda a minha força. E aos pés de alguém gritarei: -Me vista, me use. Estou cansado de ser apenas mais um casaco velho. E se nem assim eu obtiver minha liberdade, juro que me faço em pedaços. Antes um pano de chão do que um paletó velho trancado dentro de um armário.