Sentado a beira do altar ele chorava. Não eram simples lágrimas de quem se sente só. Eram lágrimas de quem voltou a ser só.
Praguejar Deus, nem isso adiantaria. Não, nunca existiu nenhum deus.
Todos foram mortais. Toda crença é mortal.
Não existe alma. Não existe amor. Existe solidão. Ao menos agora é tudo o que ele enxerga.
Um enorme vazio. Uma escuridão para andar.
Voltou seus olhos para os vitrais.
Cores não havia lá.
Era uma soma de variantes cinzas e formavam a imagem de uma mulher.
Sorriu. Ele viu a imagem dela. Nua, despedaçada, colada em vidros.
Cores não havia lá.
Voltou a chorar quando se percebeu nu.
Vestiu-se. Cueca, meias, calça, camisa, sapatos.
Vestiu-se de variantes cinzas.
Sentado enquanto colocava os sapatos olhou para o teto.
Anjos corriam. Pinturas desgastadas.
Pensou em tromba-tromba de anjos. Imaginou penas e auréolas esvoaçantes pelo céu.
Sentiu-se só.
Frio.
Apático.
Morto.
Levantou-se vagarosamente como se fosse feito de pó.
Ao pó tudo volta.
Começou a caminhar rumo a porta.
Fileiras de bancos dançavam em seus olhos.
Eram as lágrimas confundindo a imagem?
Deu cinco passos. Pensou ouvi-la.
Parou. Sentiu o calor voltar a seu corpo.
Viu cores pelas paredes.
Os sinos tocaram.
Os anjos quietos o observavam.
Uma pena caiu do céu.
Ele virou-se.
Olhou o vitral colorido.
Uma profusão de cores combinadas formavam a imagem de uma mulher tocando seu seio.
Os bancos se jogaram contra as paredes.
Ele pensava que agora sim ela entraria pela porta lateral.
Seu coração batia, batia, batia.
Tum-tum. Tum-tum. Tum-tum.
Tirou as mãos úmidas do bolso.
Apertou uma contra a outra.
Estava se preparando para sorrir.
Secou o rosto no ombro.
A porta se abriu?
A porta se abriu!
Uma brisa entrou trazendo uma pena.
A pena deu duas voltas pelo céu como se guiasse seus olhos.
Ande, apareça.
A pena caiu. Apenas o ar entrou. Tomou seu lugar no cenário e parou.
As cores caíram de todos os lados.
As cores inundaram o chão e escorreram pelas frestas.
Ele virou-se para a porta central.
Era uma soma de variantes cinzas.
Bateu a porta com força e jogou-se no mundo.
1 minuto.
2 minutos.
3 minutos.
5 minutos.
10 minutos.
15 minutos.
Ela entrou pela porta.
Trazia nas mãos a mala. O vestido sujo de barro e a esperança de que ele a tivesse esperado.
Sentou-se e esperou. Ele nunca voltou. Ela nunca saiu.
Eles se tornaram a soma de variantes cinzas.
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