Explicações!

Andei um bom tempo egoista. Escrevi só pra mim e só eu saboreei meus textos. E quando menos esparava e vindo de onde eu menos esperava, me cobraram explicações: "Tu abandonou o blog?"
Não, mas achei que ninguém mais lia.
Agora que sei que alguém lê, volto a publicar minhas confusões mentais.
Aproveitem (ou não).
Sal.

Crenças femininas

A meia luz do abajur de canto iluminava parcamente o quarto. Em frente ao espelho, nua, ela repetia: “Fiquei muito tempo acreditando naquilo que me disseram que eu não era”. Tocou os seios, passou a mão pela lateral do corpo e abraçou-se. Sentia saudade desse tipo de abraço. Apertou os olhos e olhou em volta. Mais ninguém estava no quarto. Era apenas ela e seu reflexo. Nua, de corpo e alma. Perguntava-se onde tinha deixado a luxúria. E aquele abraço longo terminou. Vestiu-se. Lingerie de algodão branca. Blusa decotada preta, calça jeans justa. Sandália de salto alto. Apenas um brilho nos lábios. Aquele colar de pedras coloridas. Uma pulseira, sem anéis. Soltou o cabelo, penteou para desembaraçar. Dinheiro, chave de casa, identidade. Abriu uma gaveta, procurou embaixo das roupas, pegou um preservativo e pôs na bolsa. Bateu a porta. Caminhou alguns quarteirões. Tomou um táxi. - Boa noite, a rua dos barzinhos, por favor. - Algum lugar específico, moça? - Não. Chegando lá eu digo onde quero descer. Pensava durante o trajeto: “Ele bem que podia estar por ali.” Abriu a bolsa, procurou por um espelho. Não encontrou. Olhou para o retrovisor. Viu que o taxista olhava seus seios. Sorriu tentando evitar que ele percebesse e olhou pela janela. Ele estava sentado no mesmo barzinho. - Pare o carro. Quanto eu devo? - Dezoito reais. - Tome quinze, o resto fica como desconto pela olhada no decote. O taxista sorriu constrangido: - Tome meu cartão, venho buscá-la quando quiser ir embora. Mal sabia ele que ela não pretendia ir embora sozinha. Desceu. Enroscou o salto na calçada. Meio sem jeito, levantou os olhos, rezando para que ele não tivesse visto. “Merda, ele viu.” Ele levantou-se. Veio em sua direção. Ela continuou andando. Frente a frente, ele sorriu: - Pensei que nunca mais fosse vê-la. - Eu não. Compre um vinho, roube duas taças e vamos para minha casa! Ela não acreditava no que fazia. Ele sorriu. Horas depois ela estava novamente frente ao espelho. Nua. Com uma taça de vinho na mão. Sentiu uma mão em seu seio, a mão desceu pela lateral de seu corpo enquanto ela pensava: “Fiquei muito tempo acreditando naquilo que me disseram que eu não era”. E a saudade desse tipo de abraço se foi.

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