Explicações!

Andei um bom tempo egoista. Escrevi só pra mim e só eu saboreei meus textos. E quando menos esparava e vindo de onde eu menos esperava, me cobraram explicações: "Tu abandonou o blog?"
Não, mas achei que ninguém mais lia.
Agora que sei que alguém lê, volto a publicar minhas confusões mentais.
Aproveitem (ou não).
Sal.

O jogo de dominó.

Sem conseguir encaixar as peças, ele insistia em jogar dominó sozinho. Era uma terapia de paciência: a busca pelo número de encaixe perfeito. Sentado na sala, debruçado sobre a mesa, perguntava-se se a vida era como o seu jogo: -Peças que não se encaixam, enquanto procuro a ideal, fico trocando as peças. Começou a sentir os objetos inanimados ganharem vida. Inacreditável!- pensava enquanto levanta-se um pouco, dando espaço para que as peças se movessem. Umas das peças, que há muito estava sobre a mesa, ajoelhou-se e caiu em prantos. - Meu Deus, o que aconteceu?-disse ele. - Estou cansado de esperar pelo meu par, você não faz idéia de como isso é desgastante. – disse a peça 3 e 4. Intrigado, mesmo com as outras peças se completando, ele preferiu dedicar atenção a esse sofredor. - Fique calmo, uma hora eu viro alguém que te completa.- quando se deu conta de que as peças ainda em desuso continuavam sem vida. - Mas eu tenho medo! Tenho medo de que o jogo acabe e eu fique solitário. Você não sente isso?- indagou a peça ainda em lágrimas. - Te-tenho, – surpreendeu-se com sua resposta. Nunca havia pensado nisso com clareza. E continuou: - mas não me deixo abater. Sei que muitas peças podem se encaixar, uma vai ter que chegar. - E se não chegar? E se seu jogo for terminado antes que sua peça chegue? - Não sei, para isso tenho amigos. Eles me dão o apoio que preciso. - Amigos? Mas e se eles acharem as peças deles? Você vai sobrar em um canto, como eu. Ele levantou-se. - Então não eram meus amigos! - Você está sendo egoísta! – retrucou a peça parando de chorar e em um tom de raiva, batendo os seus recém crescidos pés na mesa. - Ai, uma peça de dominó com senso de decência! – disse de forma irônica. A pecinha minúscula tinha razão, sua ironia não conseguiu esconder seu erro de pensamento. - Sim, eu não quero que as outras peças fiquem solitárias pra me fazer companhia na solidão, elas também têm o direito de serem felizes. Também devem achar seus pares. - Você tem razão! E se eu não achar meu par. Bom, ainda tenho você. - Mas eu não sou humano, e você não é meu encaixe no dominó!!! Ele percebeu seu erro. Olhou para baixo e permitiu-se chorar. Secou as lágrimas na manga da camiseta. E olhou para o dominó na mesa - Mas como??? Elas estavam vivas! – disse ao perceber que os dominós estavam como sempre estiveram. Imóveis, sem vida. Colocou todas as peças com um possível par e deixou-as sobre a mesa. Levantou-se, olhou em volta e jogou a cabeça contra uma parede com toda força que podia. Seu jogo acabou e ele não teve tempo de encontrar sua peça.

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