Explicações!

Andei um bom tempo egoista. Escrevi só pra mim e só eu saboreei meus textos. E quando menos esparava e vindo de onde eu menos esperava, me cobraram explicações: "Tu abandonou o blog?"
Não, mas achei que ninguém mais lia.
Agora que sei que alguém lê, volto a publicar minhas confusões mentais.
Aproveitem (ou não).
Sal.

Desodorante

Heloisa era uma mulher sagaz. Não era linda, era vistosa. Vestia-se bem, malhava, usava cremes para rejuvenescer, bronzeamento artificial. Uma loiraça! Salto alto, batom vermelho, conjunto de lingerie preto. Roupas sensuais, mas discretas. Tinha os dentes bem cuidados, não fumava, falava inglês e francês. Andava se sentindo solitária. Era chefe de departamento de uma grande empresa, por isso tinha muitos homens como subalternos, o que a impedia de ser despudorada. Ela estava acima deles. Se saísse com um, perderia o respeito dos demais. Paulo era sério. Recatado, usava seus ternos impecavelmente passados. Cores sóbrias com gravatas bonitas. Bem vestido. Também malhava, não fumava, dentes brancos que destacavam sua boca sensualmente carnuda. Abdômen em forma. Era dono de uma rede de sucesso. Falava inglês e espanhol. Tinha muitas empregadas. Algumas, semi-deusas. Mas não podia se envolver com nenhuma. Respeito, sabe?!?! Sentia-se solitário. Helô era selvagem na cama. Dominava, mordia, controlava a situação. Paulo era dominado e, na cama, adorava isso. Amava mulheres selvagens. Os dois estavam por volta dos 30 anos. Helô procurava por um homem como Paulo. Paulo procurava por uma mulher como Helô. Certo dia, quis o destino que se encontrassem. Os dois faziam compras no mesmo mercado, mas nunca na mesma hora. Até aquele dia. Ela acabara de sair da academia. Suada, escabelada (depois de aerobox e pump), sem maquiagem, vestia um camisetão com a gola cortada que caia sobre um ombro e deixava a mostra o top preto. Tênis velho que ela achava mais confortável. Mochila em um ombro. Procurava por um Ob e um desodorante. Ele dormira toda a tarde no sofá. Cara marcada, remela nos olhos, bafo de quem se babou de tanto dormir. Usava um short preto e uma camiseta regata que deixava os pêlos das axilas aparecerem. Sem banho, de chinelas brancas, mas encardidas. Unhas dos pés compridas (faltava tempo para aparar), uma carteira na mão e na outra uma cestinha com quatro cervejas, uma lasanha semipronta, chocolate. Procurava por cotonete e desodorante. Sem querer, Paulo bateu com a cestinha em Helô. - Desculpe moça! - Não foi nada! Helô olhou bem no fundo dos olhos azuis de Paulo, que olhava para seus olhos negros. Paulo pegou os cotonetes, Helô o Ob. Cada um seguiu para um lado. Ela pensava: - Bonito o moço, pena ser tão pobretão. Ele pensava: - Gostosinha a moça. Pena que pegou o Ob extragrande. Á vida continuou e os dois se sentem solitários. Nunca mais se viram, nem se lembram um do outro. A vida é assim. Existe o momento certo, a pessoa certa, no mesmo lugar e ninguém percebe. É culpa do desodorante. Sempre ele...

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